a

a

IGREJA DOS PRIVILÉGIOS

CRISTO BIBELOT

Antigo Testamento, a bruma dos tempos antiquíssimos, as alegorias imagéticas e indecifráveis dos escribas dos reinos perdidos.

Roma, Império dos senhores-deuses. Um Cristo inconsequente e clandestino prega nas catacumbas para um povo despojado, que o ouve mas não o segue.

Cristo crucificado na sua alucinação pelo Império e pela aristocracia sacerdotal da Judeia.
Roma convertida. Um Cristo recuperado decorará vaticanos, ricos palácios, igrejas faustosas com altares esculpidos a ouro e marfim.

Um Cristo assim convém aos Impérios de hoje e de ontem, que nunca o libertarão da cruz.



MANTOS

Um padre. Alto, gordalhaço, sinistro. Usa vestes negras, arrastadas, sebentas. Protege-se com um manto de um negro lúgubre.
Sob a aba direita, esconde parcialmente um menino nu, trémulo, amedrontado, indefeso.

Ao lado, imponente, medonho, altivo,  de olhos avermelhados e expressão ameaçadora, está Sua Excelência Reverendíssima, o Bispo.
Cobre-se com um enorme manto vermelho-sangue, dobrado a ouro, cravejado de diamantes, com perceptíveis esqueletos humanos desenhados em cambraia, dois a dois, em forma de cruz, dispersos por todo o riquíssimo manto.
Sob a sua aba direita cobre o padre, que assim protegido, confortado e encoberto,  já saliva pela sua presa.



UM PAPA NUNCA VEM SÓ...

Ei-los que desfilam a passo lento e pesado. Soberbos e altivos. Veste coloridas mas fúnebres. Espalham o odor a incenso para disfarçar o cheiro da morte.

Surgem como criaturas de outras épocas. Perversos e hirsutos.

Querem transformar os nossos dias em noites de negrume medieval e inquisitorial.



A SAGRADA FAMILIA

Jesus Cristo e o Cristianismo são pilares idiossincráticos e ideológicos da sociedade ocidental, sociedade que, como afirma o sempre reaccionário António Barreto e a Igreja Católica Apostólica Romana, elege a família tradicional como a sua própria alma.

Mas...

Jesus Cristo foi um filho concebido fora do casamento.

Nossa Senhora, era menor quando o concebeu

O viúvo São José, homem já maduro, aceitou tomar conta de Nossa Senhora, nessa altura ainda menina

Jesus Cristo muito provavelmente era quase analfabeto

Jesus Cristo apenas pregou durante três anos, dos trinta e três que teria vivido

A dilecta de Cristo, Maria Madalena era prostituta

Os familiares próximos e conterrâneos  de Jesus Cristo julgavam-no louco

Sabia que há quem considere que o Cristianismo, na sua "ingenuidade primitiva", durou pouco mais de três séculos? Ou seja, desde os tempos de pregação de JC até ao Édito de Milão (313 dc)?

O que subsistiu foi um conjunto de práticas e rituais faustosos, uma versão do cristianismo obscurantista e manipuladora das massas, que convinha ao Império Romano e às oligarquias que lhe sucederam, que vieram a ocupar o Papado e a governarem os Estados Pontifícios.
A família dos Médici e dos Barberini são apenas exemplos dessas oligarquias.

Sabia que já haviam decorrido muitos anos após a morte de Cristo quando se começou a reunir e sistematizar a história da sua vida e da sua peregrinação nos Evangelhos?  

Naqueles tempos em poucos anos muito se perdia e muito se inventava…

Dir-se-ia que bases fundacionais da Civilização Ocidental e da Santa Madre Igreja não são assim tão consistentes…











Tem cuidado amigo!

Andam aí a vender-te gato por lebre! A afiar as espadas para te cortarem a cabeça!

Nunca deixes de ser quem és, mas recusa entrares no molde que “eles” têm preparado para te tornar quedo na revolta, ledo quando és vitima, e mudo no protesto.

Fica em guarda sempre que ouves dizer que a politica não nos interessa, que “eles” são todos iguais, que o que deve ser é cada um por si, que não vale pena fazer nada porque já nada resolve “isto”...

Infelizmente, tens que desconfiar dos chamados movimentos espontâneos porque são sempre inconsequentes, desorganizados, apolíticos, desideologizados, nunca põem em causa o que está verdadeiramente em causa: o Poder, a sua forma e os seus conteúdos!

Não tenhas a memória curta: Faz um esforço e verás que as promessas que “eles” te fizeram estão nas antípodas da realidade que te impõem todos os dias. É tão fácil apanhá-los…

Mais tarde ou mais cedo vais concluir que a politica não é sinónimo de conspurcação, mentira, perversidade.
Isso é a politica “deles”.
A nossa é uma actividade nobre, construtora de algo que nos faz falta. Pode até ser uma via para a felicidade de cada um e de todos.

Aprende a identificar quem são os “eles”. Todos os dias “eles” se revelam quando irrompem pela tua vida e a transformam num inferno.

Exige também com todas as tuas forças aos que prometem um mundo novo, um mundo novo a sério! Não velhas cópias do velho mundo.

Mas participa na construção desse mundo novo!
Não adormeças na ilusão de que não contas e que tens é que cuidar da tua vida, porque quando acordares dessa ilusão, pode acontecer que já nada reste...

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.


Bertolt Brecht
[1898-1956]

Construir as cidades prós outros...

ASSIM VAI PORTUGAL...

A situação na Comunicação Social

Os órgãos de comunicação social em Portugal, na sua maioria, são pertença de grandes grupos económicos.

Os mais relevantes são a Sonaecom, a Média Capital, a Impresa, a Cofina, a Controlinveste, para alem da PT e da Zon.

Os principais canais de TV, estações de rádio, jornais e fornecedores de serviços de Internet estão assim nas mãos de alguns tubarões, cujo objectivo final é o lucro e a sua maximização.

Não admira pois que todos os conteúdos, informativos e outros, sejam submetidos a forte escrutínio por parte desses tubarões, ou dos seus representantes, para aferirem se estão, ou não, em linha com a protecção dos seus grandes interesses económicos, financeiros, políticos, ideológicos e religiosos.

É por isso que certas personalidades, organizações e partidos políticos – os que materializam os projectos e as politicas que os favorecem – têm acesso privilegiado a esses órgãos de CS e outros quase não aparecem.

Faça-se a estatística sobre as presenças de dirigentes ou militantes dos partidos de esquerda nesses órgãos de CS – incluindo os públicos, que todos nós pagamos – relativamente aos partidos da direita ou que levam a cabo as politicas que interessam à direita económica e social e facilmente se conclui o óbvio: a constante presença da direita e, só para a “mentira ser segura”, lá aparece uma ou outra voz à esquerda.

Sabemos o enorme impacto que a comunicação social, principalmente a televisão, provoca nas sociedades actuais.
Diz-se mesmo que o que acontece ou passa nas televisões ou não acontece.
O que significa que a televisão é uma fábrica de factos que podem ser moldados ao jeito dos mandantes.

Em Portugal, o estado da Comunicação Social é desastroso.

Os exemplos diários nos OCS privados e públicos é de uma enorme falta de decência: em nome dos interesses dos poderosos que tudo controlam, deturpa-se a realidade, predomina a mentira, engana-se, distorcem-se mentes, espalha-se o ódio e a violência, criam-se monumentais embustes, excluem-se liminarmente, por medo e revanche, os que têm opinião contrária à dominante, sendo estas atitudes a negação da própria democracia e da pluralidade que tanto apregoam.

Fanhais - Prá mentira ser segura e atingir profundidade....

ASSIM VAI PORTUGAL...


Quem diz que é pela rainha
Não precisa de mais nada
Embora roube à vontade
Ninguém lhe chama ladrão
Todos lhe apertam a mão
É homem de sociedade
                  …
Ninguém lhe vai aos costados
          
                        Zeca Afonso


A situação nas Empresas

Conhece-se a estrutura empresarial portuguesa: 98% das 350.000 empresas actualmente existentes são micro, pequenas e médias empresas.

Nas grandes empresas (apenas 2% de tecido empresarial mas com mais relevância nalguns aspectos do que os restantes 98%), muitas delas apresentam uma estrutura accionista maioritariamente estrangeira.

As actuais grandes empresas públicas (TAP, CTT, ANA…) dentro em breve também serão adquiridas por capital estrangeiro.

E o problema é que estes investimentos estrangeiros são investimento ambulantes do tipo “íman”, isto é, atraem e fixam no seu centro a riqueza criada e regressam com ela aos países de origem, ficando em Portugal apenas as marcas negativas da sua passagem.

Não são portanto investimentos de desenvolvimento, duradouros e estruturantes. Trazem apenas capital faltando-lhe as componentes da tecnologia e conhecimento.
Daí que o emprego criado e que se prevê criar no âmbito destes investimentos seja diminuto.

São grandes os problemas com que se deparam as micro, pequenas e médias empresas: financiamentos inexistentes por impossibilidades de acesso ao crédito bancário e outro, baixos níveis de produtividade, baixa rentabilidade, fraca qualificação dos trabalhadores e inaptidão dos empresários nas áreas de gestão e do desenvolvimento do negócio.
Muitos empresários-patrões podem saber do ofício mas não sabem do negócio.

Por isso mesmo, também neste tipo de empresas domina o paradigma do lucro fácil e imediato, descurando-se a consolidação o desenvolvimento e o crescimento das empresas.

É este o caminho que conduz ao velho modelo de baixos salários e mão-de-obra desqualificada, já sem qualquer futuro.

Nas grandes empresas os accionistas exigem a maximização dos lucros através de uma forte exploração dos trabalhadores, de uma pratica de aumentos escandalosos de preços dos bens aos clientes, de uma negociação agressiva junto dos fornecedores impondo condições leoninas e de um planeamento fiscal nos limites da legalidade, quando não mesmo fuga deliberada ao fisco, que inclui a transferência para praças offshore.

E assim, paulatinamente, tem vindo a abandonar-se o projecto industrial das empresas, – Portugal está desindustrializado – o seu crescimento e desenvolvimento e nas estratégias de gestão releva-se apenas a vertente da financeirização.

No aspecto social, em muitas empresas que conhecemos e que se apresentam como exemplares, ao invés de se fomentar um modelo de relações laborais baseado no reconhecimento dos direitos e deveres das partes, na participação de todos no projecto da empresa, na divisão equitativa da riqueza produzida e numa efectiva responsabilização social – é isto o contrato social – disseminam o medo, exercem a chantagem, subvertem o valor do trabalho e perseguem-se aqueles que ousam exercer os mais básicos direito de cidadania.

Esta cultura empresarial produziu pequenos führers subservientes, que se mostram dispostos a tudo no posto onde os mandantes os colocam, para subirem um pouco na escala hierárquica e social.

As reestruturações que têm vindo a ser operadas em certas grandes empresas, já visavam a implementação desta cultura, quando atiraram borda fora milhares de trabalhadores no auge das suas carreiras profissionais, mas que estavam “impregnados de sindicalismo” e não eram dóceis. Tinham alguma consciência política.

Em síntese, é este o panorama que se pode apresentar do modelo empresarial português.

A FELICIDADE - UM NOVO PARADIGMA PARA A POLITICA

"O verdadeiro espírito de revolta consiste justamente
em exigir a felicidade aqui na vida."

Ibsen

"O primeiro requisito da felicidade dos povos é a abolição da religião"
                                                                                                                     
                                                                                         Karl Marx



Felicidade humana: um projecto imemorial

A felicidade é intrínseca à própria natureza humana e é um ideal de vida desde sempre perseguido pelo homem enquanto entidade social.

Mal despontava o alvorecer da humanidade, já as sociedades humanas de então se organizavam tendo em vista a obtenção do que lhes proporcionava estados de felicidade, que, nos primórdios, se resumia a garantir a sobrevivência: alimentos, território e direitos de acasalamento.

Desde então a busca da felicidade tem sido incessante e épica.

Continua a ser um imenso projeto em construção, frágil e instável, que permanentemente nos desafia e convoca a defendê-lo das poderosas e constantes ameaças que sobre ele impendem, representadas por alguns que alicerçam a sua felicidade na infelicidade de muitos.


Os ladrões da nossa felicidade

A atividade humana, em todas as suas dimensões, deveria estar orientada para a obtenção felicidade de todos e de cada um.

Mas tal não acontece.

Não é esse o desígnio das sociedades cuja organização assenta em princípios de desigualdade que está institucionalizada, na exploração de muitos em favor de muitos poucos, em que o Trabalho constitui uma fonte de exploração, de despersonalização, de frustrações e subjugação.

As razões porque em tais sociedades prolifera a tristeza, o mal-estar social, a revolta, a indignação, a indiferença, a exiguidade para a maioria e o fausto para alguns, só podem encontrar-se na organização social, económica e politica das comunidades humanas.


É gigantesca a extensão dos danos infligidos à Humanidade ao longo dos séculos pelos detentores do poder, que sempre coincidiram com os que detêm a riqueza.

Atentos à História da Humanidade, apercebermo-nos que, em cada uma das suas fases, os que dispõem dos exércitos, das leis, do capital, do ensino, da ciência, da religião, submetem e dominam outros que nada dispõem, destruindo a sua felicidade, a sua esperança e o seu futuro.

Lembremos os Antigos Impérios;
Lembremos as hordas das Cruzadas; 
Lembremos o esclavagismo, o feudalismo as monarquias absolutas;
Lembremos as trevas da Inquisição;
Lembremos os movimentos de colonização do continente africano
Lembremos as muitas guerras de agressão que têm assolado o mundo, entre elas, as duas guerras mundiais que provocaram muitos milhões de mortos
Lembremos o nazismo e os fascismos;
Lembremos a derrota do Socialismo e as adulterações dos seus princípios;
Lembremos o Capitalismo, com as suas diversificadas vestes e metamorfoses, fonte dos muitos males de que padece a humanidade.

Todos estes períodos negros e acontecimentos trágicos da humanidade, pelos monstros que traziam no bojo, geraram forte resistência e acabaram por ser ultrapassados, sempre tendo em vista a felicidade humana.

Lembremos Spartacus, a revolta dos escravos como primeiro grito contra a escravatura;
Lembremos o surgimento do Cristianismo primitivo que viria a ser apropriado, adulterado e pervertido por todo o tipo de fariseus;
Lembremos a evolução imparável das sociedades do esclavagismo ao socialismo, o fim da Idade das Trevas;
Lembremos a Revolução Francesa;
Lembremos a Comuna de Paris e os heróis communards;
Lembremos a vitória sobre o nazismo e os fascismos; a vitória da democracia;
Lembremos a primeira Revolução Socialista, pese embora os futuros desenvolvimentos;
Lembremos a resistência e as batalhas que têm sido travadas contra o capitalismo, hoje numa crise convulsiva.

Há velhas ameaças que permanecem e novas que surgem, gerando também novas resistências e lutas que se afirmam e reafirmam.

É o caso dos dias que estamos a viver.


A Politica pode consubstanciar a felicidade

Não podemos aceitar que a iniquidade, que é o paradigma nas sociedades em que vivemos, semeie a descrença e a aversão pela Politica e pelo exercício de uma cidadania consciente, ativa, participada e interveniente.

Assumamos que há uma Politica que é benévola, nobre e pode ser mesmo o caminho para a felicidade individual e coletiva!

Mas essa não é a politica a que assistimos todos os dias e que consiste em meros exercícios de mediocridade, de perversidade de mentira e iniquidade.

Torna-se pois necessário e urgente olhar a Politica de outro modo, indagando sempre se estamos perante a política baixa, traiçoeira e mentirosa, ou a Política como uma das mais nobres actividades humanas!

A questão central será sempre a de indagar em que medida uma determinada politica concreta contribui, ou não, para o bem colectivo, para a felicidade. 


No nosso devir coletivo, a felicidade é “o Projeto” 

Alguns dirão que tal projeto é utópico, irrealizável.
Mas se é utópico, de onde provêm as impossibilidades de o concretizar?

Se a infelicidade é contra-natura, porque razão a felicidade é considerada uma utopia?

As fontes da infelicidade (e da felicidade) só podem estar entre nós, nas características das sociedades onde vivemos.

Enquanto a exploração de um homem por outro for possível só porque esse outro possui os meios que lhe possibilitam essa exploração; enquanto um país puder gastar numa guerra 870 mil milhões de euros, verba que era suficiente para erradicar a fome e muitas doenças no planeta; enquanto for possível conduzir as populações de alguns países a estados de indigência pelo confisco dos seus rendimentos e a predação das suas riquezas, enquanto tudo isto e muito mais for possível, não será possível a felicidade de biliões de seres humanos.  

Se almejarmos a felicidade como alternativa à nossa vida atual, temos de lutar e derrotar as verdadeiras causas da infelicidade.  

Os escravos lutaram e resistiram e tornaram-se servos da gleba, que lutaram e resistiram e tornaram-se trabalhadores quase-livres, proletários, que lutaram para se tornarem donos do seu próprio destino e hão-de lutar para se tornarem donos da própria riqueza que criam.

Porque só assim conquistaremos a felicidade a que temos direito e que há milénios nos é roubada!

Porque só assim a vida faz sentido!