"O verdadeiro espírito de revolta consiste justamente
em exigir a felicidade aqui na vida."
Ibsen
"O primeiro requisito da felicidade dos povos é a abolição da religião"
Karl Marx
Felicidade humana: um projecto imemorial
A felicidade é intrínseca à própria natureza humana e é um ideal de vida desde sempre perseguido pelo homem enquanto entidade social.
Mal despontava o alvorecer da humanidade, já as sociedades humanas de então se organizavam tendo em vista a obtenção do que lhes proporcionava estados de felicidade, que, nos primórdios, se resumia a garantir a sobrevivência: alimentos, território e direitos de acasalamento.
Desde então a busca da felicidade tem sido incessante e épica.
Continua a ser um imenso projeto em construção, frágil e instável, que permanentemente nos desafia e convoca a defendê-lo das poderosas e constantes ameaças que sobre ele impendem, representadas por alguns que alicerçam a sua felicidade na infelicidade de muitos.
Os ladrões da nossa felicidade
A atividade humana, em todas as suas dimensões, deveria estar orientada para a obtenção felicidade de todos e de cada um.
Mas tal não acontece.
Não é esse o desígnio das sociedades cuja organização assenta em princípios de desigualdade que está institucionalizada, na exploração de muitos em favor de muitos poucos, em que o Trabalho constitui uma fonte de exploração, de despersonalização, de frustrações e subjugação.
As razões porque em tais sociedades prolifera a tristeza, o mal-estar social, a revolta, a indignação, a indiferença, a exiguidade para a maioria e o fausto para alguns, só podem encontrar-se na organização social, económica e politica das comunidades humanas.
É gigantesca a extensão dos danos infligidos à Humanidade ao longo dos séculos pelos detentores do poder, que sempre coincidiram com os que detêm a riqueza.
Atentos à História da Humanidade, apercebermo-nos que, em cada uma das suas fases, os que dispõem dos exércitos, das leis, do capital, do ensino, da ciência, da religião, submetem e dominam outros que nada dispõem, destruindo a sua felicidade, a sua esperança e o seu futuro.
Lembremos os Antigos Impérios;
Lembremos as hordas das Cruzadas;
Lembremos o esclavagismo, o feudalismo as monarquias absolutas;
Lembremos as trevas da Inquisição;
Lembremos os movimentos de colonização do continente africano
Lembremos as muitas guerras de agressão que têm assolado o mundo, entre elas, as duas guerras mundiais que provocaram muitos milhões de mortos
Lembremos o nazismo e os fascismos;
Lembremos a derrota do Socialismo e as adulterações dos seus princípios;
Lembremos o Capitalismo, com as suas diversificadas vestes e metamorfoses, fonte dos muitos males de que padece a humanidade.
Todos estes períodos negros e acontecimentos trágicos da humanidade, pelos monstros que traziam no bojo, geraram forte resistência e acabaram por ser ultrapassados, sempre tendo em vista a felicidade humana.
Lembremos Spartacus, a revolta dos escravos como primeiro grito contra a escravatura;
Lembremos o surgimento do Cristianismo primitivo que viria a ser apropriado, adulterado e pervertido por todo o tipo de fariseus;
Lembremos a evolução imparável das sociedades do esclavagismo ao socialismo, o fim da Idade das Trevas;
Lembremos a Revolução Francesa;
Lembremos a Comuna de Paris e os heróis communards;
Lembremos a vitória sobre o nazismo e os fascismos; a vitória da democracia;
Lembremos a primeira Revolução Socialista, pese embora os futuros desenvolvimentos;
Lembremos a resistência e as batalhas que têm sido travadas contra o capitalismo, hoje numa crise convulsiva.
Há velhas ameaças que permanecem e novas que surgem, gerando também novas resistências e lutas que se afirmam e reafirmam.
É o caso dos dias que estamos a viver.
A Politica pode consubstanciar a felicidade
Não podemos aceitar que a iniquidade, que é o paradigma nas sociedades em que vivemos, semeie a descrença e a aversão pela Politica e pelo exercício de uma cidadania consciente, ativa, participada e interveniente.
Assumamos que há uma Politica que é benévola, nobre e pode ser mesmo o caminho para a felicidade individual e coletiva!
Mas essa não é a politica a que assistimos todos os dias e que consiste em meros exercícios de mediocridade, de perversidade de mentira e iniquidade.
Torna-se pois necessário e urgente olhar a Politica de outro modo, indagando sempre se estamos perante a política baixa, traiçoeira e mentirosa, ou a Política como uma das mais nobres actividades humanas!
A questão central será sempre a de indagar em que medida uma determinada politica concreta contribui, ou não, para o bem colectivo, para a felicidade.
No nosso devir coletivo, a felicidade é “o Projeto”
Alguns dirão que tal projeto é utópico, irrealizável.
Mas se é utópico, de onde provêm as impossibilidades de o concretizar?
Se a infelicidade é contra-natura, porque razão a felicidade é considerada uma utopia?
As fontes da infelicidade (e da felicidade) só podem estar entre nós, nas características das sociedades onde vivemos.
Enquanto a exploração de um homem por outro for possível só porque esse outro possui os meios que lhe possibilitam essa exploração; enquanto um país puder gastar numa guerra 870 mil milhões de euros, verba que era suficiente para erradicar a fome e muitas doenças no planeta; enquanto for possível conduzir as populações de alguns países a estados de indigência pelo confisco dos seus rendimentos e a predação das suas riquezas, enquanto tudo isto e muito mais for possível, não será possível a felicidade de biliões de seres humanos.
Se almejarmos a felicidade como alternativa à nossa vida atual, temos de lutar e derrotar as verdadeiras causas da infelicidade.
Os escravos lutaram e resistiram e tornaram-se servos da gleba, que lutaram e resistiram e tornaram-se trabalhadores quase-livres, proletários, que lutaram para se tornarem donos do seu próprio destino e hão-de lutar para se tornarem donos da própria riqueza que criam.
Porque só assim conquistaremos a felicidade a que temos direito e que há milénios nos é roubada!
Porque só assim a vida faz sentido!