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A HISTÓRIA NÃO SE REPETE MAS NA POLITICA HÁ ÓBVIAS PREVISIBILIDADES

Eis um texto escrito aqui no Blogue em Março de 2011. Quase tudo se passou como o previsto.

O discurso de posse do Presidente da Republica Portuguesa na Assembleia da República foi uma jogada arriscada e não se pautou exclusivamente pelo interesse nacional.

Num momento e num local tão solene, perante a Nação, Cavaco Silva não hesitou em abrir ostensivamente as hostilidades, sabendo claramente os danos que, potencialmente, poderá vir a provocar.

Foi decerto muito importante para a estratégia já delineada e para os objectivos que pretende alcançar neste seu último mandato, dizer o que disse naquela tão especial circunstância.
 
Note-se que na campanha eleitoral, espaço apropriado para o pleito político mais arrojado, Cavaco Silva nunca se pronunciou – como o fez na tomada de posse – sobre as questões consideradas polémicas (grandes investimentos, políticos da virtualidade, incitamento ao protesto, injustiça na distribuição dos sacrifícios, má gestão governativa…)  

Então impõe-se saber as verdadeiras razões deste arrasador discurso.

Tratar-se-á de um simples desejo de vingança provocado por tudo o que aconteceu na campanha eleitoral? Claro que não! Seria um acto demasiado primário.

É obvio que Cavaco Silva quis marcar uma posição

E não apenas a posição de que desta vez vai ser um Presidente adoptando uma “… magistratura activa e firmemente empenhada na salvaguarda dos superiores interesses nacionais...”.

Cavaco quis também demonstrar que é o chefe (transitório) da oposição da direita ao Governo, por insuficiências do seu PSD.

O grande objectivo politico estratégico de Cavaco Silva é trazer o PSD (com ou sem CDS) para a governação e, com ele na Presidência, submeter o País a uma exploração férrea, arrasando com tudo o que faça lembrar direitos laborais ou sociais, subverter a Constituição e alterar os fundamentos do regime democrático, tal como hoje o entendemos, instituindo uma democracia orgânica com a alienação dos mais básicos direitos de cidadania.

Aliás, já há por aí quem use abertamente as expressões: o regime falhou, ou o modelo está esgotado, ou o sistema político tem que mudar

O plano parece claro e está imposto por quem verdadeiramente manda: o grande capital financeiro, os grandes grupos económicos e os grandes empresários nacionais e internacionais.

Mas Cavaco Silva tem ainda outro problema para resolver, mais tarde ou mais cedo: esse problema é a substituição da actual liderança do PSD!

Pedro Passos Coelho é visto pelos cavaquistas e principalmente por Cavaco, como um imberbe político sem fibra nem preparação politica para, eventualmente, assumir o importante cargo de primeiro-ministro, principalmente nesta dura fase.

Cavaco abomina figuras sem densidade politica, playboys da política como Santana Lopes. E não esqueçamos que Manuela Ferreira Leite vetou o nome de PPC nas listas de candidatos a deputados…

Será à luz desta estratégia que se deve olhar com muita atenção para as recentes e futuras movimentações de Rui Rio, única alternativa credível que se vislumbra no horizonte, do agrado dos cavaquistas e de Cavaco.

É este o sentido do discurso de Cavaco Silva.

Como disse Jerónimo de Sousa, “…o Presidente veio aqui à AR tomar partido pelo seu partido…”.

E deveria ter acrescentado: utilizando verdades sobre a situação do país para esconder as suas verdadeiras intenções.

Conseguirá Cavaco Silva, o Presidente e militante do PSD lograr os seus intentos?

Depende da força anímica e da noção de responsabilidade dos partidos da Esquerda.

Demagogias e discursos formatados à parte, tem que se dizer que o PS de Sócrates serviu na perfeição os interesses e os desígnios da alta finança e do grande capital, com grande prejuízo para o País, para os trabalhadores e para todos os que vivem dos seus parcos rendimentos.

Até agora.

E no futuro?

O PS oferecerá condições para Sócrates continuar a ser o fiel serventuário da senhora Merkel, executor acrítico das políticas ultraliberais do directório franco-alemão, ou a ala esquerda do PS – seja lá isso o que for – rebela-se e complica as coisas? 

Um PSD com uma nova e forte liderança (Rui Rio) seria ouro sobre azul!
Mas, por ora, o PSD e Cavaco vão ter de se contentar com o aprendiz de feiticeiro. 

Entretanto, a Esquerda continua a sofrer do seu pecado original: uma profunda incapacidade para construir uma plataforma mínima de actuação e surgir como uma verdadeira alternativa aos olhos dos portugueses.

Não estarão assim a dar o ouro aos bandidos...?