O termo Colaboradores surge com a consolidação da
ideologia neoliberal à escala global e é usado em vários tipos de organizações –
empresas, organismos do Estado, associações patronais e até em Ordens
profissionais e alguns “sindicatos” – para se referirem aos trabalhadores.
No pós-guerra, com
a derrota do nazi-fascismo, alguns povos conquistarem ao capitalismo um forte
estado social, conquista que foi sendo admitida pelo capital como contraponto
dos ventos sopravam de Leste e que galvanizavam os povos de uma Europa exaurida e traumatizada, que desesperadamente precisava de esperança.
Entretanto a
correlação de forças foi-se alterando e com o advento do neoliberalismo, parido
de uma das cíclicas crises do capitalismo, a classe operária, os trabalhadores,
os povos, têm pago com sangue suor e lágrimas a perfídia dos grandes impérios
financeiros e dos seus representantes políticos, já sem um forte bloco
que antagonize o capitalismo.
O neoliberalismo dá
assim largas ao festim: a corrupção impera, generalizam o desemprego, precarizam
o trabalho, obrigam a baixos salários, privatizam toda a economia entregando
tudo o que dá lucro aos capitalistas, vão destruindo os sistemas de segurança
social, saúde e ensino público, aumentam intoleravelmente as diferenças sociais
semeando a pobreza e a miséria e tratam de transferir toda a riqueza produzida
para as mãos do capital através de políticas fiscais e orçamentais.
Neste contexto, para
as hordas neoliberais, a palavra “trabalhadores” é uma palavra maldita, que
eles associam a “luta”, “sindicatos”, “democracia”, “cidadania”, “direitos”, “greve”
“liberdade” etc… Sacam logo da pistola quando ouvem tais palavras.
No seio das empresas,
a defesa do capital, representado nos interesses dos grandes accionistas e
sócios, passa por negar o papel central do trabalho enquanto verdadeiro criador
material da riqueza. Ou seja, invertem-se os papéis: o capital é apresentado
como um factor determinante e por isso é remunerado com a parte de leão,
enquanto o trabalho é meramente acessório e substituível, podendo pagar-se com
os míseros trocos. Os trabalhadores são classificados como recursos integrados no aparelho produtivo. E quanto menos direitos
e salários usufruírem, melhor. O que importa é reduzir o custo unitário do
trabalho e tornar dócil a mão-de-obra contratada.
Esta crise do
capitalismo – que é disso que se trata – fez explodir o quadro das relações de
trabalho, criando as melhores condições para uma intensificação da exploração:
Gerou, como esperavam, altas taxas de desemprego, o que teve um impacto
negativo brutal nos níveis médios dos salários e outras remunerações e alterou
significativamente as relações jus-laborais, que facilitam a violação
sistemática dos direitos e interesses dos trabalhadores, independentemente do
seu posicionamento e qualificação. A arbitrariedade, os abusos e a violação da
lei ocorre todos os dias, quer por parte do governo quer por parte do patronato e com a complacência, ou
mesmo cumplicidade, de certas personalidades e organizações “sindicais”,
Num ambiente de
completa desregulamentação das leis laborais e das condições da prestação de
trabalho, entende-se melhor o significado do termo Colaboradores.
É assim necessário
difundir e consolidar a ideia de que os trabalhadores são parceiros facilmente
substituíveis, conjunturais e são externos à própria empresa.
No próprio conceito actual de remuneração, essa ideia está patente quando se generalizam as remunerações variáveis - legitimadas pelos famigerados sistemas de avaliação de desempenho - como instrumento não só de redução dos custos do trabalho mas também para dar esse caracter de transitoriedade ao trabalho e ao trabalhador.
Por outro lado, em muitas
empresas que conhecemos que se apresentam como modelos de responsabilidade
social e que cantam loas ao diálogo e a concertação, ao invés de se fomentar um
modelo de relações laborais baseado no reconhecimento dos direitos e deveres
das partes, na participação de todos no projecto da empresa, na divisão equilibrada
da riqueza produzida e numa efectiva responsabilização social, disseminam o
medo, exercem a chantagem, subvertem o valor do trabalho e perseguem aqueles
que ousam exercer os mais básicos direitos de cidadania previstos na lei e constitucionalmente
consagrados.
Esta cultura
empresarial, que pode não ser generalizada mas é mais comum do que possamos
imaginar, produziu diligentes kapos prontos
a tudo no posto onde os mandantes os colocam.
As reestruturações de
certas empresas que têm vindo a ser operadas nos últimos anos, já visavam a
implementação desta cultura quando atiraram borda fora milhares de
trabalhadores no auge das suas carreiras profissionais, mas que estavam
“impregnados de sindicalismo” e não eram dóceis. Tinham alguma consciência
política e de classe.
O termo Colaboradores não é assim um termo da
moda, inofensivo e inócuo, mas, ao contrário, é usado pela classe dominante com
uma forte carga politico-ideológica e com um sentido de apartheid.
Este termo é uma
emanação do capitalismo, da direita política e da social-democracia.
São estes os
responsáveis por o trabalho se ter transformado numa fonte de
exploração, de conflitos, de frustrações e de mal-estar físico e psicológico e
não como deveria ser, um factor de realização multidimensional do Homem.
Querem negar a luta
de classes, mas ela aí está a demolir a tese da comunhão de interesses e da
conciliação Capital/Trabalho, supremo sonho do neoliberalismo e dos seus
serventuários e supremo embuste para os trabalhadores, que sabem, de
experiência feita, que só com a luta se derrotam os desígnios e as iniquidades
do sistema capitalista.